quarta-feira, 4 de maio de 2011

Liberdade



Ai que prazer 
Não cumprir um dever, 
Ter um livro para ler 
E não fazer! 
Ler é maçada, 
Estudar é nada. 
Sol doira 
Sem literatura 
O rio corre, bem ou mal, 
Sem edição original. 
E a brisa, essa, 
De tão naturalmente matinal, 
Como o tempo não tem pressa... 

Livros são papéis pintados com tinta. 
Estudar é uma coisa em que está indistinta 
A distinção entre nada e coisa nenhuma. 

Quanto é melhor, quanto há bruma, 
Esperar por D.Sebastião, 
Quer venha ou não! 

Grande é a poesia, a bondade e as danças... 
Mas o melhor do mundo são as crianças, 

Flores, música, o luar, e o sol, que peca 
Só quando, em vez de criar, seca. 

Mais que isto 
É Jesus Cristo, 
Que não sabia nada de finanças 
Nem consta que tivesse biblioteca... 

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"





1 comentário:

  1. Este poema refere-se à liberdade.
    O autor, a meu ver, mostra que tem liberdade em ter um livro para ler e não o vai fazer, também diz que estudar não é uma necessidade extrema, pois é melhor esperar por D. Sebastião e ainda diz que jesus Cristo foi um grande homem e que não tinha estudos nenhuns.
    Comparo este poema à nós,jovens, pois muitos dos adolescentes pensam o mesmo do autor, mas temos de ter em atenção que Fernando Pessoa, talvez não tivesse razão, pois precisamos do estudos para garantir futuro.

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