quarta-feira, 4 de maio de 2011

Amizade

Ser-se amigo é ser-se pai 
( — Ou mais do que pai talvez...) 
É pôr-se a boca onde cai 
A nódoa que nos desfez. 

É dar sem receber nada, 
Consciente da prisão, 
Onde os nossos passos vão 
Em linha por nós traçada... 

É saber que nos consome 
A sede, e sentirmos bem 
O Céu, por na Terra, alguém 
Rir, cantar e não ter fome. 

É aceitar a mentira 
E achá-la formosa e humana 
Só porque a gente respira 
O ar de quem nos engana. 

Pedro Homem de Mello, in "Miserere"



3 comentários:

  1. Este poema trata da amizade.
    O autor, ao longo de todo o poema pretende definir o que é a amizade comparando-a a coisas e a actos de todos nós, nunca dando uma definição científica.
    Acho que este poema se encontra prefeitamente nas nossas vidas, pois algo que um jovem tem de mais importante na vida é os amigos, que por vezes com uns arrufios esquece-se do que é a verdadeira amizade, e este poeta pretende relembrar.

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  2. Concordo plenamente contigo Johanna. É um bocado como o soneto «Amor é um fogo que arde sem se ver», em que Camões retrata o amor, tentando dar uma explicação e não uma definição explícita, dizendo que o amor ou neste caso a amizade é isto porque faz isto, faz aquilo.
    O poeta recorre a passagens da sua e da nossa vida para retratar o que é a amizade.
    Para mim este é o melhor poema que aqui está, pois retrata a melhor coisa que temos, que são os amigos, e obviamente a amizade, aqueles que são como as nossas muletas nas piores situações.
    Evidentemente que de vez em quando mentimos, inclusive aos melhores amigos, mas quando reparamos no que fizemos, olhamos com um riso de orelha a orelha, pois sabemos que não haverá mentira alguma que quebre uma amizade forte. Esta mentira que eu tanto falo, é aquela mentira compulsiva e não aquelas que são capazes de «deitar um muro abaixo».
    Mais uma vez, adorei o poema e a sua mensagem, que penso que seja a seguinte: preservemos a amizade, pois com ela sentimo-nos bem e como tal é condição necessária para uma vida em equilíbrio de espírito e social.

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  3. Adorei este poema, para mim também é o melhor que está aqui no blog.
    Consigo identificar, perfeitamente, o que o poeta quer transmitir, quando diz: « Ser-se amigo é ser-se pai/( — Ou mais do que pai talvez...)».
    Valorizo imenso a amizade, e tal como o poeta, sinto que os meus verdadeiros amigos são como pais para mim (ou talvez mais que isso).
    É inexplicável o amor que se sente por eles. Não conseguimos arranjar palavras, expressões, objectos, que o demonstrem.
    Para mim, os amigos, são tudo na vida, são aqueles a quem recorremos quando estamos tristes e precisamos de desabafar, de contar a novidade do dia, de propor um desafio… São eles, que nos dão na cabeça quando fazemos ou estamos para fazer algo de errado. São eles, que nos alertam para os perigos que não vemos ou não queremos ver. São eles que nos ajudam sem esperar nada em troca («É dar sem receber nada,»).
    Com o que acabei de dizer, apenas retiro uma conclusão: se um verdadeiro amigo errar, não sejamos cruéis ao ponto de lhe passar a dar desprezo a partir desse momento, mas sim, dar a mão e perguntar porquê. Se pensarmos bem: São ELES que estão SEMPRE lá!

    Cátia Rodrigues

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